domingo, 9 de dezembro de 2012

Suspiro


Puxo o ar devagar

E enquanto o ar entra em meus pulmões
Penso sobre como tudo aconteceu
Sobre como tudo está acontecendo
E sobre como eu quero que tudo aconteça...

Penso sobre tudo que fiz,
Tudo que disse,
Tudo que pensei.
Percebo que algumas ações minhas
Irão me perseguir por muito tempo
Não que eu me arrependa,
Mas vou precisar saber lidar com isso...
Depois penso nas palavras que usei
Em algumas palavras que poderiam ter evitado outras coisas
Mas que eu simplesmente não consegui dizer
Ou disse o que não deveria...
E penso sobre o tempo que perdi
Quando me via pensando em coisas que não dariam em nada
Ou que só me atrapalhariam
No que eu realmente iria fazer

Aí paro pra refletir sobre o que estou fazendo
Será que estou indo por um caminho que será bom pra mim?
Será que quem está do meu lado é quem deveria estar?
Será que o chamado "destino" foi realmente brincalhão o suficiente
Pra fazer com que eu demorasse tanto pra chegar onde estou agora?
Será que tudo que fiz, tudo que disse e tudo que pensei
Não eram nada mais que situações que eu deveria passar
Pra chegar aqui
Neste momento onde não tenho tempo pra nada
Onde quero fazer milhares de coisas ao mesmo tempo
Onde cada minuto parece um segundo, onde cada hora parece um minuto
Onde cada dia parece meia hora
E quando estou com quem gosto?
Esse tempo parece ser ainda menor...
Quanto mais próximo, menos tempo?
Quanto mais feliz mais trabalho?
Quanto mais calmo mais motivos para se estressar?
Será que fiz algo errado?
Será que estou "pagando" por algum erro meu?
Ou nada mais é que uma fase da minha vida?

Depois penso em como quero que as coisas sejam
Em dias que poderei simplesmente deitar e sorrir
Pois fiz a coisa certa
Pois disse o que deveria dizer
E pensei da forma que deveria pensar.
Sorrio pois fui pelo caminho certo
Pois quem está do meu lado foi quem me ajudou a construir este futuro
Que tudo que passei foi apenas para me ensinar
E eu felizmente aprendi
Agora posso olhar pela janela e chorar
Chorar de saudade
Dos momentos que eu tinha que me preocupar com meu tempo
Dos momentos que eu me estressava com coisas bobas
Dos momentos que minhas responsabilidades eram mínimas
Dos momentos onde conheci as pessoas mais importantes da minha vida
Das loucuras que fiz para manter essas pessoas do meu lado
Saudade de errar
Saudade de arriscar
Saudade de ter medo de ser livre
Mas acima de tudo feliz
Feliz por não errar mais
Feliz por não precisar arriscar, e sim ter mais certeza do que estou fazendo
Feliz por ser livre sem medo
Feliz por ter ao meu lado aquelas pessoas
Que muitas vezes eu não sabia se estariam comigo por muito tempo
Que eu dei bronca quando faziam algo errado
Que abracei quando choraram
Que conversei quando sofriam
Que dei um presente apenas pra ver um sorriso
Que ensinei meus hobbies pra que ficasse mais perto de mim

O tempo passou, um longo tempo passou, uma vida passou
E agora solto o ar que puxei para meus pulmões
Em um longo suspiro...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Entrega em domicílio

Ventava muito... O tempo parecia não passar... E cada minuto parecia uma eternidade...
Cada passo naquela neve densa era um sacrifício enorme.
Éramos um bando de apenas 4 pessoas. Estávamos sozinhos no meio da imensidão de gelo.
O vento uivava e mesclado ao frio nos dava a impressão de que a qualquer momento iríamos ser congelados por uma baforada de um dragão branco.
Eu estava a frente fazendo meu papel de líder. Eu era o que tinha menos direito de demonstrar fraqueza naquele momento. Todos os outros esperavam que eu continuasse e era minha persistência que dava ânimo a eles.
Olhei para trás. A imagem era como um grande quadro branco onde o artista acidentalmente deixou cair algumas gotas de tinta vermelha, azul e marrom. Só havia neve, casacos de pele, cachecóis e um saco pesado que revezávamos.
O que quebrava a imensidão branca eram os cachecóis. Cada um ali representava uma cidade. Éramos um pequeno concelho mas nossas decisões afetavam a vida de centenas de pessoas. Nossa morte naquele lugar significaria quatro cidades desamparadas.
Eu era o líder desta viagem pois conheço o caminho até nosso destino. Precisamos chegar rápido ao forte mas ainda faltam alguns quilômetros...
Passadas algumas horas, após comermos pão, bebermos vinho e descansarmos um pouco, a nevasca cessou e o sol esquentou um pouco nosso corpo.
Continuamos nossa viagem até avistarmos no horizonte a muralha.
Nosso sentimento foi de grande alívio. Finalmente chegamos e iríamos cumprir nossa parte do acordo.
Fomos amparados pelos guardas da muralha que nos levaram até o regente da cidade, na presença de um clérigo e um mago alquimista (os de maior influência ali dentre o governo).
Colocamos o saco sobre a mesa, tiramos nossos suplementos (que não tinham nada haver com eles) e abrimos.
Todos ficaram maravilhados. Então aqueles quatro realmente conseguiram cumprir sua parte no acordo.
Diante deles sobre a mesa, ainda com um rubor de saúde único da raça, estava um filhote de dragão vermelho morto.
Agora o alquimista tinha o material que precisava.

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Inspiração inicial através de Fleet Foxes - White Winter Hymnal


domingo, 11 de novembro de 2012

Vingança dracônica

    O velho ancião dragão vermelho soltou uma baforada para o céu, sem nenhum objetivo maior senão lamentar.
Seu filho estava morto. Morto por humanos que sequer conheciam suas motivações. Morto por apenas sobrevoar o castelo como um filhote curioso, tentando entender o que eram aqueles que se movimentavam.
O que ele faria agora? Todos seus tesouros já não possuíam mais um herdeiro, havia dedicado grande parte de sua vida criando seu pequeno para que quando partisse eternamente rumo a Garyx houvesse alguém para dar continuidade em sua missão.
Percebeu que havia recebido não apenas uma desgraça dos deuses, mas também uma nova missão (talvez do próprio Garyx): ele precisava voltar a sua vida de destruição, só assim ele vingaria a morte de seu filho e deixaria de lamentar. Seria a melhor forma de demonstrar sua fé e ao mesmo tempo mostrar que não se mata um dragão sem se sofrer consequências.
Chegou a hora de sair de sua caverna, abandonar momentaneamente sua pilha dourada e partir rumo ao sua nova aventura.
"Não vai ser nada difícil, sei que eles não tem chance contra mim" era o que passava por sua cabeça. Talvez por isso ele resolveu fazer as coisas de uma forma um pouco diferente.

sábado, 20 de outubro de 2012

Frio

O calor humano é uma sensação estranha.
Os humanos conseguem ser quentes em seus corpos e frios em seus sentimentos.
Vi durante séculos feiticeiros que se especializaram no fogo com a esperança de serem respeitados pelo seu poder de destruição. Vi também vários magos que procuraram no fogo um sentido maior para sua existência observando as chamas tremularem em velas e se aquecendo em lareiras deitados lendo seus livros.
Eu fui diferente. Eu busquei compreender a frieza dos seres. Busquei compreender como a indiferença muitas vezes é a maior arma contra qualquer exército. Eu busquei o conhecimento, evoluí e combati o fogo com minha pele gelada. Me tornei um ser frio literalmente.
Agora sou o floco de neve que no meio de uma nevasca nunca é percebido mas que pode apagar uma fonte de calor com um simples toque. Agora me tornei aquele que durante a noite passa por entre seus cabelos em forma de brisa e que faz com que você se arrepie procurando se agasalhar. Agora sou aquele que sua mãe sempre disse pra você tomar cuidado ao sair de casa, dando um agasalho com a esperança de protegê-lo de alguma forma.
Aprendi a ser assim, aprendi a me distanciar do calor humano, aprendi a ser um ser que não depende de outros para existir, aprendi a ser aquele que quanto menos próximo estiver dos humanos mais poderoso estarei.
O calor humano me dá medo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Incerteza

Odeio quando não sei o que é real e o que não é... E isso tem ficado cada vez mais frequente...
Na verdade isso sempre aconteceu, é como se minha própria existência fosse uma incógnita... É como se tudo que passo apenas deixasse minha vida menos real...
E quando olho pra trás só vejo incertezas, só vejo mau entendidos, só vejo um grande pesadelo que apesar de não parecer real me causa medo...

No final das contas eu gosto disso tudo, além de não viver uma vida seca de certezas onde todos os dias são iguais, o medo não é lá um grande problema...
O que passou é história, o futuro é sempre incerto e sempre causará medo, por isso esse sentimento é o menos preocupante...
O que é realmente preocupante é pensarmos que a criação do novo futuro não depende só de nós... Uma unica mente pode sim criar um futuro, mas não estamos sozinhos... Todas as mentes criam seus próprios futuros e infelizmente essas histórias, essas mentes e esses futuros se cruzam, criando um choque de incerteza.

O que nos resta é trabalhar no nosso futuro, tentar impor a nossa mente e tentar diminuir a incerteza ao nosso redor. O que nos resta é tentar criar um futuro para nós mesmos. O grande problema é conseguirmos não causar os choques de incerteza nós mesmos...
Afinal, muitas vezes nem nós mesmos sabemos o que seria melhor para nosso futuro...

Pensando melhor... Os choques de incerteza me dão medo... E eu gosto disso...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Expectativas


Eu andava pela cidade depois de mais um dia cansado de trabalho...
Desta vez percebi algumas coisas diferentes em meu trajeto: o poste do ponto de ônibus estranhamente não oscilava, aquela senhora que sempre sentava atrás de mim no ônibus não estava lá, aquele mendigo que sentava todos os dias na esquina de minha casa para cantar bêbado estava sentado na praça a duas quadras do meu prédio e, o mais estranho, consegui encaixar a chave na porta do meu apartamento de primeira...
Confesso que isto me deixou um pouco preocupado... É estranho quando as coisas saem do normal, é estranho quando nossas expectativas sobre tudo ao nosso redor simplesmente são destruídas violentamente e é mais estranho ainda quando apenas você percebe estas mudanças.
Neste dia perdi meu referencial do que acreditar... A prefeitura teria finalmente se lembrado que aquele ponto de ônibus era um local perigoso? Aquela senhora teria pegado um ônibus diferente? O mendigo estava sóbrio? E a chave? Como eu simplesmente consegui encaixá-la de primeira na porta?
A chave muito me intrigou... Quatro anos com a mesma rotina e eu nunca havia conseguido entrar em casa sem ficar procurando a certa no corredor do prédio.
O bêbado muito me intrigou... Quatro anos com a mesma rotina e eu nunca havia conseguido passar pela esquina do prédio sem ele me parar pra pedir um trocado.
A ausência da senhora muito me intrigou... Quatro anos voltando cansado do trabalho e tendo que ouvi-la falar das proezas de seu filho na faculdade.
O poste muito me intrigou... Quatro anos sendo obrigado a prestar atenção em cada movimento e barulho no escuro quando o poste apagava.
Mas neste dia foi diferente.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ataque dracônico

O dragão vermelho pairava sobre o castelo.
Toda a infantaria do rei estava sobre a muralha com a esperança de conseguir fazer alguma coisa para espantar o monstro.
Apesar de todas as armaduras pesadas dos soldados, as lufadas de vento das asas do dragão faziam todos recuar um passo involuntariamente.
Os arqueiros desistiram de tentar feri-lo. Além das flechas se desviarem com o vento, o couro do dragão era grosso o suficiente para não ser ferido por pequenas pontas de metal.
Quatro magos e quatro clérigos foram levados até as quatro torres do castelo, sendo um clérigo e um mago em cada torre.
O dragão se distanciou, pairou no ar dando meia volta e foi com toda a velocidade possível na direção de uma das torres.
O mago tentou acertá-lo com um raio verde, o monstro conseguiu desviar e, quando estava prestes a chocar com a torre, jogou suas asas para frente fazendo um impulso contrário para perder velocidade. O vento foi forte o suficiente para arremessar o mago e o clérigo na parede oposta a janela da torre.
O dragão foi na direção da próxima torre e os dois conjuradores já se prepararam.
Desta vez o dragão estava voando um poucos mais de lado, não diretamente na direção da torre. Os dois muito atentos perceberam que ele estava abrindo sua boca para soltar uma das poderosas baforadas de fogo. Rapidamente o clérigo conjurou um escudo mágico que os protegeu da baforada e o mago lançou uma grande bola de fogo no pescoço do dragão que recuou após a explosão.
Neste momento a infantaria que estava sobre a muralha começou a recuar para dentro do castelo e trouxeram para cima alguns canhões. Apesar de serem armas lendas, poderiam funcionar se o dragão estiver distraído.
A terceira torre foi avistada pela besta, que desta vez não foi em direção à janela da torre, mas sim á ponta da torre. Usando suas garras, todo o telhado foi destruído facilmente e o mago e o clérigo foram obrigados a descer as escadas para não serem atingidos pelos destroços.
O dragão se posicionou agora entre duas torres ainda intactas. O mago que havia acertado a bola de fogo tentou acertá-lo novamente sem pensar duas vezes. O dragão conseguiu desviar da magia, a qual acertou a outra torre, destruindo parte dela.
Aproveitando esta deixa, a infantaria disparou três canhões no dragão, que foi atingido por dois tiros na asa esquerda e acabou caindo na planície do lado de fora do castelo.
Um mago, um clérigo e um paladino sairam do castelo a galope na direção do dragão.
O clérigo duplicou o tamanho do pladino, que saiu em investida na direção do dragão.
Mais uma bola de fogo foi conjurada, desta vez acertando em cheio o dragão, que caiu deitado no chão. Aproveitando a queda, o paladino acertou com tudo sua lança no pescoço escamoso.
O dragão caiu sem vida e todos os guerreiros do castelo vibraram de felicidade.

No subsolo do castelo um alquimista fazia experiências com as escamas retiradas de um filhote de dragão vermelho.